Eu gostaria de ter resgatado a carreira do Wilson Simonal de Castro.
Minha amizade com o “Simona” datou de 1957, Rio de Janeiro, Copacabana, ele tentando ser sucesso, após a baixa no Exército VIII GEMAC, (acho que tinha chegado a Sargento) eu estudante. Batíamos sola de sapato, do Leme ao Posto 6, até a TV Rio uma passada pela Princesa Isabel, Prado Júnior, o Beduíno, precursor do “Beco da Fome”.
Nesse bate sola, uma parada papo com um , com dois, uma passada pelo Mercadinho, Cirandinha, Bobs, Scaramouche, Snack Bar, Uma pegada de estribo do bonde aberto, e lá íamos nós. Copacabana, a “nossa” praia.
O Brasil social, político, musical e intelectual, (Que me desminta o Jô Soares ...) passeava por Copacabana.
Jorginho Guinle o melhor “bon vivant” de todos, o Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, a turma dos cafajestes, Ibrahim, Mariozinho de Oliveira, a Nyomar Muniz Sodré, Maria Helena Rangel , Fávio Rangel, Maurício Gomes de Lemos, Márcio Braga, Jacinto de Thormes ,o Waldir Amaral, o Mario Vianna, Zózimo Barrozo do Amaral, os poetas cândidos da Bossa Nova, Dorival Caymmi, o salão do barbeiro Cabral , o Péricles (O Amigo da Onça em O Cruzeiro), o Hélio Fernades , o Millor , o Cauby, o Chacrinha, o Jair de Traumaturgo, o Carlos Imperial, o Bife de Ouro, o Juscelino, Niemeyer, a Martha Rocha , o David Nasser , Carlos Lacerda, o Ary Barroso,a Piscina do Copa, o Bec Fin, o Nelson Gonçalves , o Oscarito, a Eloína , o Colé, o Walter Pinto , a Emilinha Borba , a Ângela Maria o Bê Barbará, o Júlio Ribeiro , o Radar Futebol Clube , o neném Prancha , o Tião Macalé, o João Saldanha, os Golden Boys, o Golden Room ,o Carlos Castello Branco, o Ivan , da Constante Ramos , o Carlinhos Medeiros, a Rua Toneleros, a turma da Bolívar, da Miguel Lemos , a Banda do Leme , de Ipanema , o Cordão do Bola Preta, o Ziraldo, Samuel Wayner , o Trio Iraquitan, Evaldo Gouveia , Jair Amorim , Cesar de Alencar,Benê Nunes,(me introduziu na noite do Rio), Carlos Galhardo, Oscar Ornstein (o rei do Golden Room do Copa), A Praça do Lido, o Ribamar(Teus Olhos, são duas contas pequeninas...), o restaurante Papagallo, o Ananias, (Marcos Moran, sambista, malemolente , companheiro e amigo do Simonal, até ganhar na loteca se mandou...),Dolores Duran, Antônio Maria, a Danuza Leão, a Nara(era uma menininha) ,o Sacha, a Leila Diniz, o Mielle, o Ronaldo Bôscoli , Carlinhos Lyra, Oscar Castro Neves, a Betty Faria, o Reginaldo Faria , o irmão dele , cineasta ,o Paulo Mendes Campos,a Clara Nunes , a Marron, o Emílio Santiago , Osmar Milito, Sérgio Mendes, Stanislaw Ponte Preta, o Canela (tio do Jô), o Beco das Garrafas. Bigode , jogador do Vasco, que se afinou para o Obdúlio Varella, o Bellini ,o Almir, os Gracies (todos), o Castrinho , o Luizinho Eça, o Boni , o Walter Clark,o Zé Octávio Castro Neves, o Arce, a Dolores Duran , o Miltinho , o Luiz Carlos Vinhas, a Ellis , O Roberto e o Erasmo. Todos se encontravam ,ao menos para um olá. O mar faz as pessoas ficarem mais sociáveis.
Tinha o Plaza, com a Claudete Soares, uma tremenda voz, o Beco das Garrafas. Uma época de ouro! O mundo era Copacabana! Todo mundo se misturava em Copacabana! O Simona era Copacabana, tinha o balanço de Copacabana!
Depois dos anos 50/60 encontro o Simona nos anos 70 duas vezes, a primeira num show em Brasília no Clube da Aeronáutica, cantando o sucesso “ninguém sabe o duro que dei , prá ter fon-fon, trabalhei ,trabalhei...” Numa ironia aos tempos de rala a bunda! A segunda no Rio , no Black & Wite, ciceroneando a mega star Liza Minelli.
Nas duas vezes ele , no ápice da fama, veio falar comigo, lembrar os tempos passados, sem frescura. Se não me falha a memória, em meados dessa década de 70, Simonal foi vítima do maior assassinato artístico da história deste País, devido a uma trama sórdida.
Anos 90 reencontro o Simona, no Giardino, depois, no Mister Pasta, restaurantes do Cláudio Rodrigues, (depois da sua morte, seu filho Guto, continua servindo o melhor osso bucco com uma massa de dar água na boca...), mais o Romeu Alves Pinto , o Paulo Duclos e a Elza, o Sidney, o Theodoro, Elder Cabral , o Amir Farah, o Ruy Brisolla,o Ademir Venâncio, a Lili Vieira, o Jorge Rodigues, e mais uma pá de gente.
E o Simona no ocaso, nunca reclamou de nada. Vivia resignado, com sua implacável cirrose! Machucado, digno. Cansado de lutar na Justiça e impotente diante da mídia implacável.
No Carnaval de 1999, Simona e a Marli, junto comigo, com a Lili Vieira, o Zizo Nader, a Maria Helena, saímos a convite de duas escolas de samba II Grupo como abre alas. Mesmo sem a mídia o Simonal foi reconhecido e quase arrebatado por fãs atrás de autógrafos e beijos. Simona tinha carisma.
Seu último show foi num barzinho na nova Faria Lima , onde muitos desses amigos citados, mais o Jair Rodrigues e o Francis, foram prestigiar.
Depois disso, teve uma recaída hepática e partiu. Só não morreu nos nossos braços por que não conseguiu ter forças para escapar e tomar uma saideira, de “frente pro mar” na nossa mesa do Mister Pasta.
O Paulo Duclos, na nossa mesa de “frente pro mar” no Mister Pasta, me dá a Ilustrada da Folha de São Paulo de (domingo20/06/2002) leio uma matéria que me deu a certeza de que o resgate da memória artística de um ícone como o Simonal, virou uma picuinha de gigantes.
A Globo, jogou cacife para resgatar a vida musical do Simona,(nunca mais apareceu outro show man igual...) , e a Folha insiste no lado político , embaçado dos anos 60/70/80. Pior para a Folha. O embate é sobre o artista, não sobre o passado obscuro, dos anos da Redentora. Pior que o movimento de 64, foram os anos 30 de Getúlio! O pai dos Pobres! Com o PIDE, e etc...
Leio a matéria de Capa e três páginas, retrospectiva, arquivista, de memória duvidosa pela opinião radical.
E destaco:
Questão política faz arte de Wilson Simonal ser ignorada
MÁRIOMAGALHÃES
da Folha de São Paulo, no Rio
“Mal ou bem comparando, é como recusar a leitura de "O Fazedor" porque o escritor [argentino] Jorge Luis Borges apoiou a ditadura militar argentina. Ou negar-se a assistir a "Vestido de Noiva" por causa da simpatia do dramaturgo Nelson Rodrigues pelo regime instaurado no Brasil em 1964. Ou recusar as páginas de "Memórias do Cárcere" em virtude do encantamento de Graciliano Ramos por um carniceiro como Stálin.
Ainda, rejeitar a montagem de "Pequenos Burgueses", já que Máximo Gorki patrocinou com seu prestígio a tirania na União Soviética.
A lista é infinda. Implicaria eliminar clássicos do western estrelados, dirigidos e produzidos por sócios do macarthismo --alguns deles delatores insaciáveis. Ou afastar dois gigantes da literatura, como Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa, a depender das veleidades ideológicas do freguês.
É essa a natureza do crime contra a cultura brasileira que se perpetrou nas últimas décadas, suprimindo dos compêndios e, quando possível, da memória um cantor fabuloso como Wilson Simonal.
Exagero? Sugestão: ouvir sua interpretação de "Sá Marina", obra-prima de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, em www.youtube.com.
A seguir, no mesmo site, clicar o registro de Stevie Wonder para a adaptação em inglês da canção, ancorada em um naipe de metais empolgante.
Pois Simonal não fica atrás do ícone da música americana.
Se o cotejo com os maiores é medida de talento, há dois gigantes ao microfone no duo com Sarah Vaughan em "The Shadow of Your Smile", também no YouTube e garimpado para o filme "Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei".
Restituir o intérprete de sucessos como "País Tropical" e "Meu Limão, Meu Limoeiro" à sua proeminência entre os cantores nacionais é um dos muitos méritos dos cineastas Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal.
O documentário sobre a tragédia de Simonal renova a impressão de que, quando a apreciação estética se subordina à política, perde a arte. E sugere ser ilusão tomar como compulsória a fórmula boa gente-boa arte ou gente ruim-arte ruim.
Nelson Rodrigues não era grande porque fazia pouco das denúncias de tortura, mas porque, entre outros brilhos, escrevinhava crônicas futebolísticas como só ele”.
OBS: Curiosamente, Michael Jackson, perseguido por suas neuras, não pela mídia, morreu no mesmo dia e mês da morte do Simonal 25 de junho, nove anos depois.
Se eu detivesse esse poder de mídia, certamente teria a muito, resgatado, sem nenhuma dúvida, a dignidade do cidadão Wilson Simonal de Castro.